O que você precisa saber sobre fármacos para anestesiar um equino com cólica
Anestesiar um paciente com abdômen agudo é um grande desafio. Embora seja uma das emergências mais comuns em equinos, a taxa de mortalidade ainda é alta: em estudo realizado com mais de 3.487 procedimentos, foram 424 mortes e 1.419 eutanásias.
É por isso que é de extrema importância avaliar a necessidade e o risco de um procedimento anestésico, já que há grande chance de ocorrer complicações – a depender do estado físico do paciente, tipo de afecção e idade. Mas, e se realmente a anestesia não puder ser evitada?
Quando a anestesia em equinos é inevitável: o que fazer?
Nesse caso, é fundamental que haja uma avaliação pré-anestésica com estabilização cardiopulmonar e eventual suporte ventilatório (se houver necessidade). É essa avaliação completa que vai indicar se os animais precisam de agentes inotrópicos e certificar o volume adequado de fluidoterapia na indução, correção e manutenção.
Depois do checklist anestésico – mas, antes de submeter o animal à anestesia –, é importante realizar uma preparação prévia: lavar boca, cascos e manter o animal sondado com atenção para evitar a pneumonia aspirativa. Agora, saiba um pouco mais sobre os medicamentos pré-anestésicos.
Acepromazina
É um tranquilizante que já foi muito utilizado anteriormente nas anestesias. Ele bloqueia as vias serotoninérgicas, catecolaminérgicas, dopaminérgicas e não tem efeito/dose dependente. Ou seja, não é um sedativo, apenas um tranquilizante. É um fármaco que não adianta repetir, pois o máximo que conseguirá causar no animal é uma reação extrapiramidal: uma excitação.
Ele causa hipotensão extrema e de longa duração, que pode durar entre 6 e 8 horas. Por isso, não é um fármaco selecionado para realizar uma medicação pré-anestésica em animais com abdômen agudo.
Xilazina
É um alfa-2 agonista que tem sido bastante utilizado em equinos. Como tem ação alfa-1 (pós-sináptico) e alfa-2 (pré-sináptico), ativa os receptores alfa-2 cerebrais que causam a sedação intensa. Os alfa-2 medulares causam analgesia e miorrelaxamento.
O que os diferencia um do outro é a seletividade (ou não) dos receptores. Quando a ação é em receptores alfa-1, causam estímulo vagal – ou seja, os animais apresentam bradicardia e hipertensão transitória com consequente hipotensão. O efeito é, portanto, mais intenso nos menos seletivos.
Para indução e manutenção da anestesia do equino com cólica
Agora, vamos detalhar dois fármacos para indução e manutenção da anestesia do equino com cólica: a cetamina e o propofol.
Cetamina
A cetamina é um fármaco dissociativo que bloqueia os receptores em medicação pré-anestésica de modo não competitivo ao glutamato. Essa ativação causa uma excitação neuronal e uma depressão no córtex, inibindo o sistema nervoso. Isso vai reduzir os estímulos táteis (de dor, de temperatura, etc.).
A cetamina causa uma dissociação do córtex, não uma hipnose e tem alguns efeitos catalépticos no momento da indução. Ou seja, não tem o efeito de miorrelaxamento. Assim, para conseguir realmente uma anestesia de melhor qualidade, é preciso associá-la a miorrelaxantes como o Éter Gliceril Guaiacol (EGG), que tem ação central.
Essa associação de cetamina (2,2 mg/kg IV) com EGG (50-100 mg/kg IV) é extremamente vantajosa porque o miorrelaxamento do EGG antagoniza os efeitos mioclônicos da cetamina. A indução pode ser realizada também apenas com diazepam ou midazolam e cetamina (nesse caso, é preciso aumentar a dose do sedativo).
Propofol
O propofol é um barbitúrico bastante usado ultimamente para indução, manutenção e até mesmo como adjunto transanestésico de equinos em geral – principalmente dos potros. Tem a vantagem do metabolismo acelerado e retorno mais rápido para a atividade coordenada. O inconveniente é a alta dose.
Como o fármaco está atualmente com custo elevado no mercado, sua utilidade acaba sendo inviabilizada para manutenção anestésica em infusão. O que tem sido feito é realizar a indução com propofol associado ao EGG, ao diazepam ou ao midazolam.
Essas são algumas opções de fármacos que podem ser usados na sequência de uma anestesia em equino com cólica. Mas é importante salientar que cada protocolo é individual, de acordo com a avaliação do cavalo.
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